segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

2011 - Vitoria

Muitas vezes fazemos planos, mas não prevemos as situações.


Vitória tinha 27 anos, morena de 1,70 que chamava atenção pelos cabelos cacheados, olhos brilhantes e negros. Moça extremamente apaixonada pela mãe, que a criará com muito sacrifício em Candido Mota, interior de São Paulo, desde os sete anos, quando perdeu seu marido. Dona Esmeralda, mulher de fibra fez de um tudo para dar uma boa educação a seus dois filhos.


Fernando, o caçula - 4 anos de diferença, era carne e unha com Vitória, que ajudará a mãe a criá-lo até o momento de sua partida, quando decidiu ir à capital tentar a “sorte”, melhorar de vida, assim como o sonho de muitos adolescentes.


A chegada na casa seu tio, por parte de pai foi acolhedora, mas com o passar do tempo Vitoria se via cada vez mais incomodada, pois seu tio bebia e a mal tratada, com palavras de baixo calão e algo mais que a deixava triste, mas com pretensões de voltar somente quando acabasse sua faculdade, perseverou até chegar ao seu objetivo – se formar, comprar sua casa (através de amigos conseguirá um ótimo lugar, com preço justo, para acolher sua mãe e seu irmão que ansiava a ida a cidade grande).


Vitória, depois de 6 anos de muita luta, conquistas, muito prestativa com todos no escritório de advocacia e amigos, teve sua recompensa. Ao termino da faculdade (paga com ajuda da empresa), o reconhecimento chegou e ela obteve um novo cargo, era advogada formada, mas até obter a OAB estaria responsável pela gerencia de contratos, e com isso seus rendimentos quase que triplicava, logo em poucos meses poderia se mudar e trazer sua mãe e seu irmão.


A felicidade era vista nos olhos de Vitória, sorrindo para aqueles que mantinham cara fechada, auxiliando nos serviços os que tinham certa dificuldade, cordial com clientes e superiores, em dia com seus deveres, ocupadíssima muitas vezes, trabalhando até dez da noite, chegando tarde em casa (preferia assim, para não dar de frente com o tio, somente sua tia lhe agradava, seus primos já não moravam mais lá).

Falava um final de semana sim outro não com Dona Esmeralda e Fernando, fazendo planos, contando sobre Jorge, que se declarou ao termino da faculdade e que também estava apaixonada, estava flutuando em algodão.

Numa manhã de domingo ao sair da igreja, Dona Esmeralda já com seus 55 anos, bem disposta, trabalhando uma vez ou outra, para garantir o mercado, vinha conversando com outras duas senhoras sobre a violência das grandes cidades, o que mostrava os telejornais, as drogas, a loucuras que os jovens faziam com os carros...

– Acuda. Acuda. Dizia uma senhora

– Meu Deus, que barbaridade. Dizia outra ao redor

– Você viu, o carro voava, estava muito rápido, foi em disparada pra rodovia.

– Se afastem, temos que ver a real situação do ferido.

– Ela esta desacordada, algum parente dela por aqui, algum conhecido para acompanhá-la ao hospital.

A voz truncada do irmão ao telefone não agradava Vitória, que em súbito pegou o mínimo possível de suas as coisas e correu para Candido Mota ver sua mãe hospitalizada, aparelhada, sem emitir uma palavra naquele momento. Vitória estava arrasada, abraçada com seu irmão chorava baixinho, consolava a era consolada. Não queria estar ali, naquele hospital, era para estar em sua antiga e velha casa, tomando café, jogando conversa fora, planejando a viagem para São Paulo com seus entes, que se aproximava.

Dois dias se passaram, Vitória com olhos vermelhos e aflitos, acompanhava com olhar sua mãe, que balbuciava algo destorcido.

– Antonio, Antonio. Era o nome do marido, falecido 20 anos. Vitória se arrepiou.

– Mãe, é Vitória, a sra. me ouve.

– Antonio, cuida de nossos filhos Antonio.

Vitoria estava em estado de choque ao ouvir sua mãe emitir aquelas palavras, falar de seu pai, só podia estar delirando, era o medicamento, sua atual situação a lhe deixava viajar em pensamentos antigos, se assim pode acontecer. Olhos cheios de lagrimas, lembranças vinham da época.

– Vitória, minha filha!

– Mãe, o que lhe fizeram? Vitória deixava lágrimas caírem em sua face.

– Seu nome... Dona Esmeralda esforçava-se para falar. É forte. Nunca desista. Cuide de seu irmão. Te amo pra sempre.

– Mãe. Mãe. Te amo mãe.

Vitoria via os olhos de sua mãe se fecharem pela ultima vez, naquele quarto onde a luz do fim do dia iluminava o semblante de sua mãe, onde um sorriso se formava, e Vitória debruçava ao colo que um dia deitava.

– Nunca desista.

As últimas palavras de sua mãe ecoam até hoje.

Vitória venceu muitas causas na justiça, inclusive o trágico incidente que acometeu sua mãe, e muitas batalhas na vida, apesar dos encalços e do acaso.

Vitória para todos!